A Ideologia Alemã

“Até o presente os homens sempre fizeram falsas representações sobre si mesmos, sobre o que são ou o que deveriam ser. Ensinemos os homens a substituir as fantasias por pensamentos que correspondam à essência do homem.”
Marx, ao fazer alusão aos pensamentos que prevaleciam na Alemanha do século XIX, tenta em sua obra A Ideologia Alemã desmascarar os filósofos neo-hegelianos, que criticavam tudo, mas introduziam representações e alegorias teológicas concordando no domínio da religião e dos conceitos universais do mundo existente. Estes pensadores colocavam de lado a verdadeira realidade alemã, que era totalmente controversa as suas críticas filosóficas.
O primeiro pressuposto de toda a história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos, que começam a produzir seus meios de sobrevivência, e indiretamente também produzem sua própria vida material, e o que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção. Tal produção aparece inicialmente com o aumento da população, pré supondo um intercambio dos indivíduos uns com os outros.
As relações entre as nações dependem do estado de desenvolvimento em que se encontram cada uma delas, no que se refere às forças produtivas, à divisão do trabalho e ao intercâmbio interno. Mas também toda sua estrutura interna depende do grau de desenvolvimento de sua produção e de seu intercambio interno e externo.
Inicialmente a divisão do trabalho leva à separação entre o trabalho industrial e comercial e o campo, e com isso a separação da cidade e do campo e a separação de seus interesses. Mais tarde, seu desenvolvimento leva à separação entre o trabalho comercial e industrial.
As diversas fases de desenvolvimento da divisão do trabalho representam as varias formas da propriedade. Primeiramente ela se manifesta na propriedade tribal, onde a produção não se encontra desenvolvida e sua população alimenta-se da caça e da pesca da criação de animais ou, no Maximo da agricultura. Sua estrutura social limita-se a uma extensão da família. Em segundo manifesta-se na propriedade comunal e estatal que provem da reunião de muitas tribos para formar uma cidade, por contrato ou por conquista e na qual subsiste a escravidão. Paralela a propriedade comunal aparece a propriedade móvel e, mais tarde, a imóvel como uma forma anormal subordinada à propriedade comunal. Na medida em que se desenvolve a propriedade imóvel toda a estrutura social baseada na propriedade coletiva, e com ela os poderes do povo no mesmo grau decaem.
A divisão do trabalho já é mais desenvolvida. Encontramos a oposição entre a cidade e o campo e mais tarde a oposição entre os Estados que representam os interesses do campo. As relações de classe entre cidadãos e escravos estão completamente desenvolvidas.
A terceira forma de propriedade è a feudal, ou estamental. A população existente é dispersa e disseminada por uma vasta superfície, e seu desenvolvimento inicia-se, por um terreno muito mais extenso preparado pelas conquistas romanas e pela expansão da agricultura. Após as conquista dos Bárbaros grande quantidade das forças produtivas foram destruídas, a agricultura declinara, a industria estava em decadência pela falta de mercados, o comércio adormecera ou fora violentamente interrompido, a população, tanto a rural quanto a urbana foram diminuídas todas essas condições juntamente com a influencia da organização militar germânica fizera com que se desenvolvesse a propriedade feudal.
A propriedade principal durante a época feudal consistia de um lado, na propriedade territorial à qual estava ligado o trabalho dos servos e, de outro, no trabalho próprio com pequeno capital dominando o trabalho dos oficiais.
Assim, a produção das ideias, das representações, da consciência estão diretamente entrelaçadas com a atividade material dos homens, como a linguagem da vida real e até mesmo com a produção espiritual, tal como aparece na linguagem da política, das leis, da moral da religião da metafísica e de uma infinidade de atributos sociais de um povo. Os homens são os produtores de suas representações, de suas ideias, são portanto condicionados pelo modo de produção, de sua vida material.
A moral, a religião a metafísica e qualquer outra ideologia, assim como as formas de consciência que a elas corresponde, perdem toda a aparência de autonomia. Não tem história nem desenvolvimento; mas os homens ao desenvolverem sua produção material, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos de seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência. Desde que se apresente este processo ativo de vida, a história deixa de ser uma coleção de fatos mortos, como para os empiristas ainda abstratos, ou uma ação imaginaria de sujeitos imaginários, como para os idealistas.
O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver (comer, beber, ter habitação, vestir-se e ter algumas coisas a mais), para poder “fazer história”. O primeiro ato histórico é por tanto a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades à produção da própria vida material, e isto é um ato histórico uma condição fundamental de toda a história.
Primeiramente deve se observar esta concepção histórica em toda sua extensão e render-lhe toda a justiça. Marx afirma que isso nunca havia sido feito pelos alemães, e que por isso nunca tiveram uma base terrena para a história e, consequentemente nunca tiveram um historiador. Satisfeita esta primeira necessidade, a ação de satisfaze-la e o instrumento de satisfação já adquiridos conduzem a novas necessidades e esta produção é o primeiro ato histórico. Outra questão é a familiar, que produzem novas relações sociais e consequentemente o crescimento demográfico criando novas necessidades e devendo ser tratado e desenvolvido segundo os dados empíricos existentes e não segundo o “conceito de família ”.
As necessidades desde o início levam os homens a uma conexão materialista entre si, condicionada pelo modo de produção conexão esta que é tão antiga quanto os próprios homens, tomando novas formas, sem que exista qualquer absurdo político ou religioso que mantenha os homens unidos.
Com a divisão do trabalho da se a contradição entre o interesse dos indivíduos ou da família e o interesse coletivo de todos os indivíduos que se relacionam entre si. Cada um depende de uma esfera exclusiva e determinada que lhe seja imposta e da qual não pode sair. Na sociedade comunista onde cada um não tem uma esfera de atividade exclusiva, mas pode aperfeiçoar-se no ramo que lhe apraz, a sociedade regula a produção geral, proporcionando assim a possibilidade de hoje fazer tal coisa, amanha outra.
É justamente entre a contradição de interesses que o coletivo toma na qualidade de Estado, uma forma autônoma separada dos reais interesses particulares e gerais, e ao mesmo tempo uma qualidade de uma coletividade ilusória. Todas as lutas no interior do Estado a luta entre democracia, aristocracia e monarquia a luta pelo direito de voto são apenas as formas ilusórias na quais se desenrolam as lutas entre as diferentes classes.
Toda a classe que aspira ao poder, no caso do proletariado, deve superar toda a antiga forma de sociedade e de dominação e apresentar seu interesse como interesse geral através da conquista do poder político. Esta atual Alienação dos supostos interesses coletivos pode ser superada através de um poder que se torne “insuportável”, de tal forma que produza uma massa totalmente destituída de propriedade, e que ao mesmo tempo entrara em contradição com um mundo de riquezas. Este fenômeno das “massas destituídas” se produz em todos os povos decorrentes da concorrência universal, fazendo com que cada um deles dependa da revolução dos outros, e finalmente, coloca indivíduos empiricamente universais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais.
Sem isso o comunismo não poderia existir a não ser como fenômeno local, as próprias forças do intercâmbio não teriam podido se desenvolver como forças universais, e toda ampliação do intercâmbio superaria o comunismo local. Empiricamente o comunismo é apenas possível como ato dos povos dominantes “súbita” e simultaneamente, o que pressupõe o desenvolvimento universal da força produtiva e o intercâmbio mundial conectado com o comunismo.
O comunismo não é um estado que deve ser estabelecido, ou um ideal para o qual a realidade terá que se dirigir. A denominação do comunismo é o movimento real que supera o estado de coisas atual, as condições desse movimento resultam de pressupostos atualmente existentes. A massa dos simples trabalhadores pressupõe o mercado mundial e, portanto pressupõe também a perda, não mais temporária e resultante da concorrência deste próprio trabalho como uma fonte segura de vida. O proletariado só pode existir, mundial e historicamente, do mesmo modo que o comunismo, sua ação, só pode ter uma existência histórica mundial.
Tal concepção marxista, não trata de procurar uma categoria em cada período nem de explicar a práxis, mas sim de permanecer sempre sob o solo da história real e, de explicar as formações ideológicas a partir da práxis material chegando ao resultado de que todas as formas e todos os produtos da consciência não podem ser dissolvidos por força da critica espiritual, pela dissolução na autoconsciência ou pelas transformação sobrenaturais, mas, só podem ser dissolvidas pela ruína pratica das relações reais de onde emanam estas encanações idealistas. A força que impulsiona o movimento da história não é a crítica mas a revolução, assim como de qualquer outro tipo de teoria.


Bibliografia: Marx e Engels. A ideologia Alemã. Feuerbach. Ed. 3º - São Paulo: Ciências Humanas, 1982.

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