A doutrina de
segurança nacional expurgou dos países latino-americanos temas e conceitos de
grande significação social e política que foram desgastados por usos e abusos
da política burguesa internacional. Participação e desenvolvimento, como fez
menção José Marques Melo (1989), são temas que voltaram a ser escutados com
assiduidade da boca dos dirigentes políticos, economistas e líderes sociais.
Tais temas não são de
grande relevância para a comunicação social vigente, pois as mesmas estão
submetidas ao imperialismo burguês que não tem interesse no surgimento da valorização
política, pois exigiria não só a teoria, mas a prática.
O discurso ideológico
da política vigente encobre o verdadeiro significado dos temas. Tais discursos
são sustentados pelo aparato da indústria cultural e através dos meios de massa
comerciais que somente transmitem aquilo que julgam necessário a seus
interesses de classe, como disse esbravejando e ameaçando o então presidente Fernando
Henrique Cardoso quando da recusa da entrada da carne bovina brasileira nos
países europeus por suspeita de estarem doentes com a vaca louca “se eles acham
que nossas vacas estão loucas e é guerra que eles querem então[...]”, como se
as vacas pertencessem a todo o povo e não à uma minoria detentora do poder e
das vacas.
A comunicação popular
como vivência cultural na América Latina introduz rupturas no discurso
ideológico dominante, na qual a comunicação massiva comercial é suporte
principal. Esse processo de ruptura implica no aglutinamento de perspectivas e
valores que formam parte do projeto cultural do povo, desencadeando vários
movimentos de resistência à “cultura ideal perfeita” proposta pelos nossos
governantes.
Novos conceitos são
empregados ao se falar em desenvolvimento, deixando para trás aqueles velhos
conceitos empregados ainda na época da Guerra Fria que possuíam um sentido
inteiramente econômico, pois novos são os conceitos empregados na América
Latina sobre o discurso de modernização e do ponto de vista prático. É o
discurso de que tudo é possível, e o meio mais eficiente de servir e ser
servido.
Através dos meios de
comunicação é que se propagam de forma permanente as propostas de convencimento
dos latino-americanos, cada dia mais castigados pelas suas condições de vida
decorrentes de uma política característica de povo dominado, para que eles
abram os olhos para a suposta realidade de seus países subdesenvolvidos que
terão possibilidades de desenvolver-se modernamente, somente estando sujeitos
aos auspícios e responsabilidade da comunidade internacional, pagando as
dividas externas que seriam responsáveis pelas “evoluções” socioeconômicas de
seus respectivos países.
Existem regras que
devem ser seguidas, pois somente assim serão abertas as portas da modernidade,
essas regras implicam no achatamento do aparelho do Estado, uma maior
eficiência aplicada em todos os níveis produtivos, redução do déficit fiscal
entre outras receitas ditas capazes de modificar as crises.
A assimilação tecnológica
das sociedades desenvolvidas mediante a gestão e o empurrão do capital privado seria
no discurso das classes dominantes a única forma possível de desenvolvimento.
Contudo, se forem rejeitadas as regras, Tio Sam ficará muito chateado podendo
com um piscar de olhos condenar todo um povo ao ostracismo e a marginalização.
Em síntese o que nos
está sendo proposto é que aceitemos essa presumida realidade, e que devemos ser
resignados e humildes aceitando nossa condição atual, em função de um suposto
desenvolvimento baseado na modernização que marginaliza e oprime a maior parte
das populações. “Mas para que pular a cerca, sendo que a porteira está
aberta...”, varias são as formas de se justificar esse discurso, mas pouco se
menciona sobre a queda sem fim da qualidade de vida que sofre a população através
desse vagaroso processo de deterioração social.
O desenvolvimento
modernizador proposto pelo sistema internacional vigente mesmo que não pregue a
desumanização submete o cumprimento das aspirações humanas.
Não tem espaço nesse
plano para uma sociedade utópica que tem o homem como centro, que busca uma
realização da pessoa, a partir de seus próprios valores culturais. O discurso
político que é também a mensagem dos meios de comunicação maciços e comerciais
se carrega de discursos para exilar qualquer alternativa ou proposta que possa
rapidamente ser catalogada de irresponsável e contraria ao interesse social.
No campo da política
como no da produção de mensagens culturais, há uma carência enorme de
participação efetiva, devido inicialmente a própria desunião das massas
exploradas e dos detentores do discurso político de oposição, e quando há
propostas comunicacionais e culturais não passam de simples parodias
participativas.
Referência
MELO,
José Marques. Comunicação na América
Latina Desenvolvimento e Crise. Cap. IX: Utopia e Realidade na Comunicação
Popular. São Paulo: Papirus, 1989.
CARDOSO,
Ciro Flamarion \ Brignoli, Héctor Pérez. História
Econômica da América Latina. Cap. IV: Economia de exportação. Rio de
Janeiro: Graal Editora, 1979.
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