Em
torno das grandes contradições que giravam em torno do mundo contemporâneo, as Revoluções Europeias abalaram o antigo sistema exportando para as colônias
americanas novas ideias revolucionárias. Auxiliados pelos espanhóis Junot invade Portugal fazendo com que a
família real se refugie em sua colônia americana, com o desenrolar do conflito
D. João e a corte britânica ordenam a invasão de Caiena pelos paraenses. Mais
tarde ao retornarem a Belém os paraenses influenciados pelos ideais
revolucionários, proliferam tais ideias e sofrem uma grande repressão por parte
do governo que desejava evitar que se repetisse na Amazônia portuguesa o mesmo
que estava acontecendo na espanhola.
A
notícia da “independência” do Brasil gera uma série de incidentes políticos e
revoltas em uma província em que tradicionalmente o poder colonial era muito
forte e presente devido a um corpo de funcionários, comerciantes e fazendeiros
portugueses.
Na
Capitania do Rio Negro seus políticos reivindicaram a autonomia da mesma, pois
a muito era subordinada ao Pará, logo mais a submeteram ao Império do Brasil. Toda
a antiga forma administrativa é novamente implantada sempre a favor dos
lusitanos em detrimento dos brasileiros, incitando mais uma vez o derramamento
de sangue.
Com
a abdicação de D. Pedro I, assume o poder um governo regencial que é
rapidamente deposto por um golpe por não agradar a elite local. Quando a notícia
do golpe se espalha, os assassinatos e os incêndios transformam Belém em um
cenário infernal.
Um
novo governo é empossado. A situação começa a fugir ao controle dos golpistas,
rebeliões começam a espalhar-se por toda a província, mais e mais levantes
foram acontecendo e sendo sufocados, pois a burguesia nativa ainda aspirava ao
poder e o povo queria escapar da miséria em que estavam inseridos.
A
regência nomeou uma comissão para reprimir os levantes populares que não
cessavam. Lobo de Sousa que fazia parte de tal comissão assume o poder
anistiando todos os envolvidos nos incidentes anteriores independente de suas
ideologias. Tal atitude faz com que volte ao cenário político personagens como
o padre e cônego Batista Campos que reassume o cargo de conselheiro e passa a
liderar a oposição ao novo governador.
O
recrutamento forçado de qualquer jovem seja ele mestiço, vagabundo ou índio
constituiu-se do maior erro político, pois se estava dando “asas para cobra”.
Batista Campos intensifica seus ataques ao governo e é obrigado a refugiar-se
nas matas e mais tarde é perseguido por uma força enviada pelo governo. Tal força
é interceptada por rebeldes liderados por Antônio vinagre que cada vez mais
reunia um maior número de homens.
A
clandestinidade de Batista Campos amalgamada às péssimas condições de vida que
vinha passando ao longo dos últimos tempos fez com que o defensor da liberdade
e da dignidade dos povos morresse causando grande comoção em toda a Amazônia. A
prisão de Felix Clemente Malcher
aliado de Batista Campos e a morte de alguns rebelados atiça os ânimos dos
inimigos do governo, mais tarde uma tropa liderada por Antônio Vinagre entra em
Belém, invade e toma o Quartel dos Corpos de Caçadores e Artilharia. Ao mesmo
tempo, outra tropa liderada pelo crioulo Patriota invade o Palácio do Governo
confrontando-se com a guarda que é rapidamente dominada; no dia seguinte Lobo
de Sousa é assassinado e seu corpo é arrastado pelas ruas e jogado a sarjeta.
Com
a rendição da última guarnição leal ao governo deposto, os cabanos eram
senhores da capital do Grão-Pará e Rio Negro. Malcher é aclamado presidente da província nomeando Francisco
Vinagre comandante das armas, logo mais os revolucionários começam a
dividir-se, Malcher assumindo a
defesa de sua classe ordena a prisão de Vinagre e manda desarmar o povo, a
revolução esta traída. Vinagre ao saber do mandato de prisão marcha contra o
Palácio do Governo manchando mais uma vez de sangue as ruas de Belém.
O
novo governador é assassinado e Francisco Vinagre é proclamado presidente,
ficando pouco tempo no poder, sendo obrigado a entregar a cidade ao emissário
da Regência apoiados por navios de guerra ingleses e franceses. A guerra e a
guerrilha continuavam, Eduardo nogueira Angelim reúne um exército de sertanejos
e ataca Belém, disputam palmo a palmo as ruas de Belém, a Marinha bombardeia a
cidade despejando milhares de tiros tentando deter a ofensiva dos cabanos.
Depois de nove dias de conflito os cabanos tomam a cidade e nomeiam Angelim
presidente.
Um
exército de centenas de homens segue para levar a revolução ao alto Amazonas,
conflitos armados se encadeavam por todos os lugares onde esse exército de
excluídos passava, era desesperada a tentativa de sobrevivência do continuísmo
colonial.
O
regime do Rio de Janeiro reage e manda uma frota de milhares de soldados bem
armados e municiados para “pacificar” os revoltosos. Angelim escapa abandonando
a cidade, os cabanos enfraquecidos vão resistindo durante mais dois anos, os
“pacificadores” vão levando medo e destruição por onde passam arrasando
povoados e executando prisioneiros.
A
repressão levou três anos para acabar com todos os focos de rebelião. O novo
governo reorganiza o exército do Grão-Pará e solicita ao Governo Imperial que
seja votada uma anistia aos cabanos, mais tarde é outorgada uma anistia a todos
os participantes do movimento da Cabanagem.
A
Cabanagem se distinguiu pela efetiva e dominante participação das massas, da
ascensão de líderes dos mais baixos estratos da sociedade, é a única revolução
em que o povo chegou no poder no Brasil e também a que mais longa repressão
sofreu. Os cabanos jamais apresentaram um projeto político, um modelo de sociedade
ou um programa de reformas sociais, e em nenhum momento os cabanos trataram de
abolir a escravidão ou se mostraram tentados a separar a Amazônia do resto do
Império do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.